segunda-feira, 17 de abril de 2017

...e agente lê!

A gente lê. E à medida que as palavras se vão encostando umas às outras até que façam algum sentido, formem uma ideia, nos coloquem perante um facto, vamos ficando, em vez de mais esclarecidos, mais confusos. Remédio - reler e ponderar. Portugal está na penúria. Há portugueses que têm em casa guardados mais moeda antiga, o histórico escudo, do que euros - a moeda actual, que nos traz preocupados e em conflito doméstico e más consequências. Do que se lê, ressalta o número de balcões da banca que encerram e os despedimentos que tais medidas comportam. Encerram as portas, e eliminam os balcões, porque não há dinheiro vivo nos bolsos do povo e menos para depositar como poupanças, rolante, que origine dinâmica na economia do dia a dia, que faça o país fervilhar no mundo dos negócios e do trabalho. A gente vê rua abaixo rua acima, rapazes e raparigas, homens e mulheres que ainda esboçam sorrisos, boas risadas, uma simulação de pequena felicidade, e levam em ambas as mãos, sacos carregados de alguma coisa. Pela cor dos sacos comerciais, parece indicarem tratar-se de compras de ocasião, de última hora neste quase mar de princípio de verão, de fim determinado, de alguma pechincha que valeu o esforço que custa os olhos da cara e que demorarão a recuperar. A prova de que não há dinheiro, vem estampada nas notícias diárias dos mídia. Uns milhares de balcões de agências de Bancos, uns fundidos com outros e outros confundidos no tempo, estão a fechar e a proceder a despedimentos, ou como agora se diz, "a proceder à redução da presença física", para serem mais eficientes. E ao que projectam os que mandam nisto tudo, serão necessários mais cortes no pessoal para os tornar mais eficientes. Os que se aguentarem, claro. Os empregados que são e serão despedidos o mesmo terão que fazer - aguentarem-se como puderem. Quanto ao povo, que sobe e desce na vida, que entra e sai dos mercados com sacos cheios de quase nada, também a ele lhe cabe a sorte de terem que se aguentar como puder, e esperar em falsa agitação, num faz- que-faz, que tudo vai pelo melhor. Ao chegar a casa, e ao despejar os sacos, é que a consciência e a discussão, tomam lugar ao ocupar o espaço vazio que sobra dentro dos sacos e das carteiras, aonde se carregou a vontade de ter comprado mais alguma coisita - um farrapito, uma prenda para a Páscoa, mas para o qual faltou o dinheiro novo, quase falido quanto o velho escudo, que ficou lá atrás guardado como recordação numa lata de biscoito, criado nesta Europa desgovernada e corrupta, despida de boa esperança, mas cheia de ilusões para depositar num banco cada vez mais afastado de si, seja ele, com novo nome ou antigo sem rumo... também. Conclusão após cuidada leitura - a crise continua. Ela se acumula em casa e se disfarça pela rua!

*(já publicado no DNmadª)

          
   

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