terça-feira, 2 de janeiro de 2018

Ponto charneira

Acabei agora mesmo de ver, na RTP 1, o primeiro de quatro documentários intitulados "2077 - 10 segundos para o futuro". Magnífico! Para quem tem curiosidade vital e não quer acomodar-se ao "nem quero ver nem quero saber disso". Perturbador mas muito importante. As palavras chave são: exponencial e nova espécie. E nós humanos e sapiens de hoje... na charneira da viragem!
Por acaso, ou talvez nem tanto, também nos últimos tempos, li três livros diferentes no género literário mas absolutamente confluentes no tema. "Origem" de Dan Brown (DB), "Sapiens" e "Homo Deus" de Yuval Noah Harari (YNH). O primeiro, um "thriller" social/policial ao jeito do autor. Os dois últimos, sequenciais no tema, ensaios histórico e futurologista. À nova espécie que aí vem (de certa maneira já cá está) chama DB de "Technims" (acho que é este o nome). Para YNH é "Homo Deus". O documentário fica-se pelo "Homo evolutis".
Com um investigador ficcionado, "heroi" desde o "Código da Vinci", com revolução genética, cibernética ou inteligência artificial, todos vão dar ao mesmo: como espécie estamos mudar para uma outra, paulatinamente mas... exponencialmente. Crescimento e desenvolvimento  lineares "já foi", agora é sempre a acelerar. .
Que me apetece dizer neste momento exacto? Que não me surpreende mas que me agita. Ainda que, noutra medida, o outro ponto de mudança foi a entrada na modernidade, há poucas centenas de anos, em que a ciência procurou o futuro, deixando para trás os reis e impérios que queriam "parar o mundo". E que, como é normal ... me sinto "pequenino"_
E é nessa "pequenez" e porque o meu/nosso tempo é este tempo, gozar do uso da palavra DEMOCRACIA" para dizer que nenhuma voz deve ser calada, desde a mais bárbara à mais plena de saber. Já sou um bocado biónico, nos dentes e no aparelho auditivo, mas, atento sempre, sei bem que os mais dogmáticos são os mais incultos, convencidos que têm a verdade para "expandir" aos incréus. O que não é assim.

Fernando Cardoso Rodrigues 

8 comentários:

  1. Também vi e ouvi, quase até ao fim do programa. Os vocábulos exponencial e nova espécie são, de facto, os pontos-chave.
    Desde os humanos/sapiens até ao "Homo evolutis", o passo está dado.
    Eu, apenas, exclamarei nesse tempo: não te entendo! Estou fora!

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  2. Até podemos ficar de fora, senhor Amaral, mas não alheados; enquanto por cá andarmos, e lá para aonde quer que formos, observadores e atentos, eh, eh, eh...

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  3. Não vi o programa nem é isso que me traz aqui. Interessa-me, alternativamente, a última parte do seu texto, caro Fernando.
    Não sei se entendi em toda a profundidade o que quis dizer, mas pareceu-me que o seu “ponto” é o de permitir, sempre, que todos – mas todos, bárbaros ou sábios – digam o que muito bem lhes aprouver, quando lhes apetecer.
    Básica e estruturalmente, estou de acordo com a liberdade de expressão, mas… não deverá nunca haver limites? Quando, em liberdade, exercemos a auto-censura, não é, justamente, por nos impormos esses limites?
    Possivelmente, a discussão levar-nos-ia, agora, para a questão do Bem e do Mal e, mais, de quem é que tem o direito de lhes definir as fronteiras. Deverá ser-nos indiferente, e darmos voz por igual a quem defende um e a quem defende o outro? Deve ter sido assim, é certo que com base num ideal bem-intencionado, que tivemos Hitler, contra quem a sociedade, complacente, não conseguiu organizar a defesa.
    Não esquecer nunca que a nossa liberdade termina onde a dos outros começa, o que pressupõe limites. Ignorá-los, ainda que olimpicamente, pode significar que não tomamos partido e há casos em que se torna obrigatório repudiar a abstenção.
    Para terminar, quero dizer que, por mim, não teria rebuço nenhum em tirar o pio (literalmente, não de forma metafórica…) aos Trumps deste mundo.

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    1. Obviamente a primeira coisa é agradecer-lhe o ter-me questionado. E tenho o maior gosto em responder. Começo por dizer que não foi por acaso que escrevi democracia com maiúsculas.É como se ao dizê-la assim lhe aumentasse o impacto, até para mim mesmo de modo a que o "som" também posa vir em grande e nunca ignorável. Porque, como ser humano que sou, toti e ambivalente,tenha que ter uma "campainha" que me lembre a todos os momentos, do que sou. Especialmente naqueles em que me desiludo com a falta da tal auto-crítica ( o José chamou-lhe auto-censura) que alguns não possuem de todo e em que os limites são ultrapassados " a "todo o pano". No plano histórico, em que relembrou, muito bem, Hitler e o nazismo que subiu por eleição e a complacência de muitos e, contemporaneamente, com Trump nos liberais EUA. Igualmente não me esqueço da pusilanimidade de Chamberlain e o colaboracionismo de Pétain e ainda, no plano ideológico, de Salazar e Franco.
      O problema é que, a história serve, e muito,também para aprender os caminhos do futuro. E num mundo globalizado "toda a guerra é uma guerra civil" (Luís Moita dixit), conhece-mo-nos melhor a todos e ao interior de cada um e devemos impor-nos muita atenção, cultura e sabedoria. Ecletismo com sabedoria, será possível? Mas nunca... com pusilanimidade! Lembra-se dum texto do Rui Tavares no PÚBLICO de há dias, que glosei no jornal e, penso, aqui no blogue? Primeiro as ideias. Às racistas, xenófobas e populistas, responde-se com outras cosmopolitas, abertas e, sobretudo, democráticas.
      Até aqui falámos de coisa em grande ( boas e más). No plano mais chão, do nosso dia a dia, em que as ideias e a cultura não abundam e o odiento dos criminosos do mundo se transforma em boçalidade tacanha, o princípio é o mesmo, pois o que eles querem é... que os proíbam para terem "razão" Sinto-me bem a falar com um homem educado, aberto e com ideias próprias e aqui fica o meu apreço por si, José.

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    2. Agradeço-lhe a consideração com que me distingue que, como sabe, é recíproca.
      Como eu gostava de estar totalmente de acordo consigo! Mas… falta um pequeno detalhe: o mundo não é o ideal, a tal utopia. Se o fosse, não discordava de si em nenhum dos pontos que assinalou. Li o artigo do Rui Tavares e os comentários que o Fernando colocou no Público e aqui no blogue e apreciei devidamente tudo isso.
      Contudo, também a DEMOCRACIA precisa de ter normas, quanto mais não seja para que os “outros”, ao abrigo da sua magnanimidade, não a destruam por dentro. E, neste mundo prático, não falta quem o queira. Por isso, no normativo que nos rege, desde o religioso ao social, sempre se prescreveu a ideia do “castigo” a suceder ao “crime”, como no Dostoievski. Bem? Não sei. Alguns crimes do passado não o serão hoje, como alguns de hoje também não o foram no passado.
      Mas, para a defesa de muitos, nem tudo pode ser permitido a alguns. E aqui, a Democracia também terá de fazer valer a vontade da maioria, defendendo os seus interesses, embora no escrupuloso respeito das minorias, como é óbvio.
      Portanto: as nossas opiniões não divergem por aí além. Diz-me o meu pragmatismo que, nos tempos correntes, é melhor ser-se cauteloso. Mas invejo, com muita sinceridade, o seu idealismo optimista e, acredite, gostava que me dissesse que os meus receios são infundados. Mas atenção, não ignoro que a introdução, no sistema, dos “castigos”, que me parecem incontornáveis, arrastam consigo, às vezes, aproveitamentos e generalizações que a gente já sabe em que é que se transformam. E, neste capítulo, o Fernando tem toda a razão.

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    3. Estou responder não para contra-argumentar, até porque, como disse, não divergiremos assim tanto. É só para lhe dizer que não sou mesmo optimista, talvez somente um pouco idealista. Como aliás o disse na glosa ao texto de Rui Tavares. Agora o que tentarei não ser, nunca, é maniqueu e, para isso, preciso das tais "campaínhas" sólidas que adquiri culturalmente. Sei do ser humano ( e portanto de mim próprio) o suficiente para exautorar os enquistamentos dogmáticos e pretensiosos, mormente quando estão "colados com cuspo", o da ignorância atrevida e trauliteira. Não pelas personagens mas porque delas se fazem as massas que seguem, amblíopes, os líderes. Dir-me-á que é por isso mesmo que devem ser parados, não é? Talvez tenha alguma razão mas há os de sinal contrário que, atentos, não serão pusilânimes.

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  4. Independentemente de tudo o mais, fiquei enriquecido com o bate-papo.

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