Mudar para quê?

Assim é que se está bem nos CTT. Os resultados globais caíram, o Banco continua no vermelho, mas a distribuição de lucros ultrapassa, mais uma vez, os resultados. Ao arrepio de toda a de prudência, para prevenir ventos desfavoráveis no futuro, mas também para permitir investimentos, com capitais próprios, com vista a maior competitividade, os CTT dão aos accionistas o que ganham e o que ganharam no passado, em gestão pública. Entretanto, vão-se delapidando patrimónios e recursos humanos, e, concomitantemente, a qualidade dos serviços prestados. A própria lei e muitos estatutos societários obrigam as empresas, em determinadas condições, a constituir “reservas legais” que, no caso, certamente já foram ultrapassadas em tempos anteriores à privatização.

Por vezes, quando as empresas beneficiam de certas vantagens fiscais ou financeiras, encontram-se contratualmente limitadas na distribuição de dividendos aos accionistas. Seria de pensar que a “atropelada” privatização dos CTT incluísse, no caderno de encargos, alguma cláusula deste género. Mas não, e não há quem torça a orelha?  Agora, o inefável presidente dos CTT, em linguagem infantil, “explica-se”, e avisa que, no futuro próximo, a política de pagamento de dividendos vai mudar. Que remédio! Alguém bem-intencionado, com saudáveis e largas vistas empresariais, e não só do “fartar enquanto der”, conseguiria manter a orientação actual?

NOTA: Este texto foi enviado ao Expresso que, na sua edição de hoje (10.03.2018) não o publicou. Pelo facto, senti-me desobrigado de não o enviar para qualquer outro órgão de comunicação social e, assim, enviei-hoje ao Público.

Expresso - 17.03.2018