quinta-feira, 25 de abril de 2024

Carta a um amigo desprevenido



Sei que tem saudades da sua juventude. Quem as não tem? Mas é legítimo confundi-las com as que, por associação de ideias, se podem misturar com a vivência global em que nos inseríamos? Isto aplica-se a tantos de nós que, há 50 anos, já éramos adultos, com diferenciadas responsabilidades na vida. Convém não esquecer que essa vida de então estava amplamente condicionada pelo circunstancialismo político dominante. Ou porque estávamos na guerra colonial, ou porque, se pertencêssemos a alguns dos grupos sociais “desfavorecidos”, tínhamos condicionada a nossa liberdade de movimentos, sujeita à vontade de outros. As nossas mulheres ou mães, por exemplo, não poderiam deslocar-se ao estrangeiro sem autorização expressa dos respectivos maridos. Qualquer “cidadão” que não fosse “branquinho de gema”, embora não sujeito a um “apartheid” declarado, tinha o ferrete da cor da pele e, consequentemente, muitas portas fechadas, mesmo na sua terra natal, em África. Era o colonialismo em toda a sua força, com países a oprimirem “legalmente” outros países. 

Não nos deixemos confundir nem enganar. A todo o tempo somos assediados por populistas que nos segredam que o 25 de Abril acabou com os tempos felizes. Prefiro, sem tibiezas, os tempos, ainda que imperfeitos, em que podemos falar, discordar, pensar pela própria cabeça. E isso foi o 25 de Abril que nos trouxe.


Expresso - 25.04.2024

Carta a um amigo incauto, nestes 50 anos

 

Sei que você nunca partilhou dos ideais democráticos. Pela educação que recebeu, pela propaganda que ingeriu, nunca sentiu a pulsão dos ideais de liberdade e, menos ainda, dos da igualdade. Apesar disso, porque o ordenamento democrático lho permite, ninguém o incomodará por isso, podendo continuar a pensar-se anti-sistema. Coisa que o regime que lhe dá saudades não permitia. Pode votar em partidos que, sub-repticiamente, acusam a democracia de ser a razão de todos os males que afligem o país, que insinuam que “dantes” é que se vivia bem. É claro que não vêm lembrar-nos da miséria que grassava, do obscurantismo a que nos submeteram, do monolitismo intelectual a que nos obrigaram. Não vêm lembrar-nos da iniquidade que, “legalmente”, protegia os poderosos e oprimia os fracos.

Está tudo perfeito? Não, mas é bom podermos afirmá-lo sem medos. Afinal, se “dantes” tudo era “perfeito”, por que é que o sistema se fechava, nos obrigavam a ir ao café de mordaça na boca? Tinham medo de quê? Obviamente de perder privilégios que só se davam aos “amigos”, de perder os “doces” poderes que um autoritarismo feroz lhes permitia: explorar os pobres sem o perigo de que alguém os denunciasse, meter os insubmissos nas cadeias, concentrar nas mãos do mesmo todos os poderes, censurar os jornais com toda a “naturalidade”.

Não duvido da sua generosidade e grandeza de carácter. Não se deixe enganar. Há quem queira que o ovo da serpente termine a gestação. 


Público - 24.04.2024


quarta-feira, 24 de abril de 2024

Glória ao 25 de Abril!

O meu mestre-escola e notável jornalista, Viriato Dias, director do Jornal da Costa do Sol, relembrava-nos na nossa comemoração evocativa do 25 de Abril: ''Tudo o que escrevíamos tinha de ir à censura''. Criminosa. Muitas, muitas vezes o miserável censor lápis azul cortava tudo(!). Tinha de se reescrever, com toda a ginástica mental da imaginação para produzir a mesma ideia com outras palavras, com frequência nas entrelinhas... A autocensura ainda foi mais diabólica. A imprensa foi deveras vergastada, ofendida, mutilada e, jamais quereremos e lutaremos para que essas abjectas humilhações regressem. Mas, atenção!, o quadro político actual não está fácil... O célebre, Ferreira de Castro, autor duma obra-prima, 'A Selva', (a ler) foi obrigado a ser escritor porque não quis ser - censurado jornalista... O glorioso 25 de Abril, com um brilho nos propósitos, acabou com os exames prévios e mordaças e, a todos(as) os(as) que nos proporcionaram fazer da escrita criação, mensagem e megafone, neste caso, a minha maior gratidão!

terça-feira, 23 de abril de 2024

PORQUE O PR MARCELO ESCONDEU A CONDECORAÇÃO DE SPÍNOLA


 

Spínola nas suas funções e altos cargos desempenhados após o 25 de Abril de 1974, procurou sempre dificultar e impedir os objectivos e conquistas da Revolução de Abril, apoiando os que a atacaram. Tentou impedir a extinção da PIDE. Não pretendia que presos políticos fossem libertados. Foi contra a descolonização e opôs-se à independência dos novos países que resultaram das ex-colónias. Conspirou, organizou e apoiou as tentativas de golpe contra o 25 de Abri, em Julho de 1974 o golpe Palma Carlos e em 28 de Setembro de 1974 a chamada «maioria silenciosa». Já depois de afastado dos cargos que lhe tinham sido confiados, foi o principal responsável pela tentativa de golpe de 11 de Março de 1975. Foi ainda um dos fundadores do grupo terrorista MDLP, que efectuou atentados contra instalações e pessoas do PCP, outros partidos de esquerda e sindicatos, sobretudo no chamado verão quente de 1975.

Spínola nasceu em Abril de 1910 em Estremoz. De 1968 a 1973 foi governador da Guiné. Em Janeiro de 1973 foi assassinado Amílcar Cabral, líder do PAIGC (Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde). Foi general desde 1969 e em 1980 foi-lhe atribuído o título de marechal.

E, se não houvesse o 25 de Abril?

Devemos perguntar: onde estavas, se não houvesse o 25 de Abril? Teria, como milhares de jovens, ido para as Colónias defender interesses de meia dúzia de abastados, usurpando território que há muito reclamava - justa independência! Muitos, muitos regressaram com sequelas, nomeadamente stress pós- traumático, obnubilados, estropiados e dentro dum caixão! Não foi só a irreversibilidade da morte dos mancebos (10 000 militares falecidos) foi a insanidade mental perene, como sucedeu ao meu tio, no Hospício do Telhal. (20 000 inválidos). Os exemplos são mais que muitos... Por dever teremos que homenagear os progressistas militares, os movimentos de libertação das ex-Colónias, a luta do sindicalismo e o Povo, que foram dos elos mais decisivos para o êxito do dia mais inteiro, mais limpo e mais radioso da nossa História - o 25 de Abril!

segunda-feira, 22 de abril de 2024

Quem acreditou neste executivo, acredita no Pai Natal!

Quem gritou contra quem anunciou mais do mesmo desta gente, que diz que governa, foi uma certa imprensa orientada, associações patronais, um localizado bloco central de interesses, comentadores do óbvio e por aí adiante. Também são os mesmos políticos de sempre. Da direita extremada e da extrema-direita. Desde o PSD ao CDS, que os unem à IL e ao Chega, respectivamente! Faz sentido. Um dos resultados do desgoverno já está à vista: Um IRS mentiroso e uma benesse para as grandes empresas em sede de IRC - muito generosa. O estado de graça do executivo acabou, mais uma vez, a honestidade pelo cumprimento das promessas eleitorais não fazem parte do seu léxico político, daí já estarem a prazo.... Justificadamente!

sábado, 20 de abril de 2024

Bom casamento

 

RESTAURAÇÃO

 

Luisa de Gusmão era espanhola

Casada com o duque de Bragança

Os Filipes entraram por herança

Impondo a sua pior bitola.

 

Mas vendo que Portugal estiola

Uns patriotas cheios de pujança

Puseram nessa senhora a esperança

De pôr os opressores a dar à sola.

 

Para ver os parentes porta fora

Nem que fosse rainha uma hora

A duquesa nenhum medo mostrava;

 

Animando o temeroso marido

Este por fim mostrou-se decidido

A Nação de morrer recuperava...

 

Amândio G. Martins

 

 

 

 

 

 

sexta-feira, 19 de abril de 2024

Abril, onde já vais sonhos mil...

A ti, 25 de Abril, já tantos te querem invernil. Tantos mais dão-te energia primaveril, sempre! Através de dialéctica permanente. Abril, dos mil sonhos, contra já fascismos medonhos, defendo-te 'com' espingarda e palavras mil... ''Quem não gostou do PREC (Processo Revolucionário em Curso), do 25 de Abril a Novembro de 1975, não gostou do 25 de Abril!'' Esta tirada não é dum esquerdista, foi dita por um intelectual da direita dita democrática, José Pacheco Pereira. E esta hem! Podemos e devemos comemorar o 25 de Abril, porque foi até então, um pioneiro golpe militar progressista e libertador. O dia mais feliz de tantas, tantas vidas! Com o outonal 25 de Novembro de 1975 desaguámos, agora, num regime capitalista que mata! O carácter generoso em demasia dos militares de Abril, foi duma benevolência extrema a tratar os carrascos da PIDE/DGS. A Revolução não tinha nem podia ser florida, daí, no final do dia redentor, de dentro da sede daquela criminosa polícia politica rajadas de tiros fizeram 4 mortos(!). Cerca de 1500 pides estiveram presos entre 3 e 6 meses(!), e muitos fugiram para o estrangeiro... e, como se não bastasse, o então primeiro-ministro, Cavaco Silva, recusou atribuir uma pensão a Salgueiro Maia, capitão fundamental para o êxito do 25 de Abril e, posteriormente a sua esposa já viúva, com uma filha, Catarina Salgueiro Maia. Como pior presidente da República, no 10 de Junho de 2009, depositou uma coroa de flores no túmulo daquele valente, generoso e corajoso militar(!). Anos depois, pasme-se!, atribuiu pensões a inspectores da DGS e, a um miserável pide, Óscar Cardoso, que esteve barricado na sede, na rua António Maria Cardoso, presumivelmente um dos quais que dispararam e mataram 4 concidadãos democratas. A História não absolverá o inqualificável, Cavaco. Hoje, indubitavelmente, faz mais sentido homenagear, rememoriar e comemorar o PREC! Apostila: I) Vi, li na internet um cartão da PIDE, dum jovem adulto. Quem era? Anibal Cavaco Silva.... Se não é fotomontagem, faz sentido. II) A seguir ao nascimento do meu filho e da minha filha, o dia mais Feliz da minha vida foi - o 25 de Abril de 1974!

25 de Abril, data maior da nossa História quase milenar!

A madrugada mais histórica, através dum golpe militar com contornos libertadores pioneiros no Mundo, foi desencadeado por bravos e corajosos progressistas, no 25 de Abril! Com o outonal Novembro de 1975 estamos, agora, num capitalismo que mata!

quinta-feira, 18 de abril de 2024

“Bendita” guerra


Perante o repúdio geral, ninguém se atreveria, alguma vez, explicitamente, a apontar algo de positivo no “fenómeno” da guerra, que, por definição, é negativo. A guerra destrói pessoas e bens, é certo, mas não deixa de enriquecer muitos. Há quem lucre desmesuradamente na construção e venda dos armamentos que, dado o nível de sofisticação tecnológica que atingiram, são produzidos com o recurso a vultuosos capitais, longe das capacidades financeiras das “fabriquetas” de outrora. 

Mas há outros “ganhadores” da guerra. Netanyahu, por exemplo, só sobrevive politicamente à custa dela. Abrindo uma nova frente com o Irão, desde logo abençoada pelo ocidente em geral, capitaliza em seu favor a hostilidade suscitada pelos ayatollahs extremistas, deixando cair no apagamento da memória, tudo quanto de cruel praticou e pratica em Gaza. Não será tão cedo que a abertura dos telejornais vai incidir sistematicamente no horror da Palestina que, à semelhança da Ucrânia, tenderá a diluir-se nos alinhamentos. Não que se deixe de falar do assunto, mas… 


Público - 19.04.2024

quarta-feira, 17 de abril de 2024

Deslocados

 

 

GIOCONDA

 

Sendo tão semelhante à Mona Lisa

A Gioconda devia ser gémea

Meditava a visitante ingénua

No que ali à volta se discorria...

 

Ouvia o que falavam confundida

Se aquela gente estaria a ser séria

Ou aquilo que ouvia era pilhéria

De gente com aspecto de sabida.

 

Ouvindo alguém que falava em “Da Vinci”

Um novo-rico ofereceu trinta

Levando logo a mão à carteira;

 

Como se o museu fosse a galeria

Que ao traficante deixa a mais-valia

De algum artista sem eira nem beira...

 

Amândio G. Martins

 

 

terça-feira, 16 de abril de 2024

O homem não se enxerga

Vi e ouvi na RTP 3, repescada de outro media, alguma da conversa estragada com que aquele Passos de má memória se quer a todo o custo manter vivo, qual múmia cavaquista, que também não perde nenhuma oportunidade para fazer crer que está vivo, quando toda a gente que lê, vê, ouve e pensa sabe que está morto e enterrado; de facto, aquele seu discípulo nunca recuperou do trauma de ter sido apeado do pedestal a que subiu inesperada e apressadamente, aproveitando a oportunidade que lhe deu a crise financeira mundial, que debilitou de morte o seu opositor em funções.

 

E ao contrário de muita gente de real valor, a quem as crises e derrotas pessoais fazem crescer, a este Coelho fizeram engordar, e quanto mais engorda mais disparates profere, decerto embalado pelas bojardas daquele outro a quem inspira, que já lançou para o espaço público a ideia de poder vir a ser o próximo presidente da República, somando-se ao outro da mesma área que há muito já atirou o barro à parede; e do que retive da tal conversa, este gordo Coelho lamenta que o actual primeiro-ministro, ao que a ele parece, esteja a renegar o seu legado...

 

Amândio G. Martins


segunda-feira, 15 de abril de 2024

ESPANTALHO


 Espantalho é um boneco feito com roupas velhas, enchidas com trapos, palha ou outros materiais, a que se coloca normalmente também um chapéu ou boné e que é colocado no meio de hortas e outras culturas, a imitar a presença duma pessoa, para afastar sobretudo aves, impedindo a danificação de sementes e plantas. O espantalho tradicional é por vezes substituído por elementos sonoros, face a uma certa habituação das aves à sua presença.

A existência de espantalhos terá uma origem de mais de cinco mil anos no Egipto, onde armações de madeira com rede eram colocados nas culturas de trigo das margens do rio Nilo, embora a forma de se parecer com um humano tenha sido adoptada mais tarde na Grécia antiga, há cerca de 2500 anos. O império romano espalharia o uso de espantalho um pouco por toda a parte.




domingo, 14 de abril de 2024

Citações e ironias


A propósito da discussão do programa do governo, vi coisas muito curiosas.
Vi o partido que boicotou Saramago a citar Saramago.
Vi o partido que nos quer trazer de volta a mocidade portuguesa e as mulheres p'rá cozinha
a citar Camões ( e cece tudo que a antiga musa canta).
Agora cito eu sem ironia António Aleixo.
P'ra mentira ser segura/ E atingir profundidade/ Tem que trazer à mistura / Qualquer coisa de verdade. 
Agora citando a minha avó (galinha gorda por pouco dinheiro, ou é choca ou foi roubada)
Eu até baseado no que me ensinou minha avó não comprei esta galinha, mas muitos compraram, agora aguentem-se.


Quintino Silva 

 

ERA PRECISO FAZER QUALQUER COISA...



Após mais de 2 meses de massacre e genocídio, era preciso fazer qualquer coisa para manter a credibilidade mesmo junto dos seus. Assim, bombardeia-se um consulado e, claro, espera-se pela retaliação. Depois faz-se de vítima e até se diz que os outros não querem acordo nenhum para libertar os seus prisioneiros. E dizem, já depois da retaliação, que irão continuar e que “não ficará pedra sobre pedra”. Ou seja, com as costas de novo, mais quentes, querem terminar o “trabalhinho”. O massacre.

Em conjunto, têm o maior arsenal convencional do mundo. Mas os outros também têm alguma coisa! E em relação ao nuclear, a coisa está mais ou menos equilibrada. De maneira que, o bailinho está armado. Esperemos que não dure muito e que não entremos todos na dança.

Mas sabemos quem é o mandador e os seus acólitos.

Há que desmascará-los.

PS- Já aqui tinha dito que soam mais alto os tambores da guerra…

Francisco Ramalho